Nas diferentes juntas de freguesia espalhadas por todo o país as semanas que antecedem as eleições legislativas são sinónimo de organização e preparativos.
Na junta da União das Freguesias de Geraz do Lima (Santa Maria, Santa Leocádia e Moreira) e Deão, em Viana do Castelo, o cenário das legislativas começa a ser delineado quando se convocam os membros para a constituição das mesas de voto. Jerusa Lopes, secretária da Junta de Freguesia, esclarece como é feita a seleção.
Nesta pequena freguesia junto à margem esquerda do Rio Lima, o número de eleitores diminuiu relativamente às últimas legislativas. Em 2022, os eleitores inscritos eram 3275, menos 68 em comparação à eleição de 2019.
Cabe aos profissionais da junta de freguesia a preparação das secções de voto assim como a recolha dos boletins e restantes materiais necessários para o ato eleitoral.
A Pandemia levou os municípios de todo o país a adotarem medidas extraordinárias para a ida às urnas de 30 de janeiro. Para além da obrigatoriedade de utilização de máscara e recomendação de caneta própria, as regras no que diz respeito ao número de eleitores por mesa de voto foram alteradas.
A Administração Eleitoral (AE) reduziu o número de eleitores inscritos por cada secção de voto para 750, limite a partir do qual há desdobramento de mesas. Na secção de voto da Junta de Freguesia de Geraz do Lima e Deão, foi colocada mais uma mesa de voto pela necessidade de garantir a segurança sanitária do processo eleitoral.
Voto antecipado
O voto antecipado em é uma das várias modalidades que os cidadãos têm para exercer o seu direito de votar antes do dia da eleição, coexistindo com o voto antecipado para doentes internados, cidadãos presos e em lares, assim como, em contexto de pandemia, um regime excecional para os cidadãos em confinamento decretado pelas autoridades de saúde.
Todos os cidadãos recenseados no território nacional podem inscrever-se para votar antecipadamente. Nestas eleições, houve um maior número de pessoas a optarem por esta mobilidade, votação que decorreu no dia 23 de janeiro.
Os boletins antecipados são encaminhados até às mesas de voto onde as pessoas poderiam votar.
“Quando fomos levantar o material a Câmara Municipal já tinha um saco com todos os votos antecipados. Vem todos juntos, aqui organizamos de acordo com a secção e colocamos no saco onde estão os materiais que correspondem à secção de voto”.
Jerusa Lopes
Posteriormente, os votos antecipados são descarregados e inseridos na urna, para depois serem contados em conjunto com os restantes boletins.
Ida às urnas
Para os membros das mesas de voto o dia começa cedo. Na Junta de Freguesia de Geraz do Lima e Deão, às 7 da manhã os elementos das mesas começam a chegar para organizar o espaço.
Já devidamente protegidos com os meios de proteção individual disponibilizados pela Câmara Municipal, o dia de trabalho começa com a afixação dos documentos obrigatórios num local visível para os eleitores. De seguida, a urna é fechada, selada e lacrada na presença dos delegados das candidaturas, após ter sido exibida vazia aos presentes.
Os membros da mesa são os primeiros a exercer o direito ao voto seguindo-se uma descarga dos votos antecipados na urna. As portas abriram-se às 8 da manhã, altura em que já se encontravam no local algumas pessoas para votar.
À chegada ao acesso do edifício, os eleitores são encaminhados para uma das duas mesas de voto, tendo em conta a divisão alfabética. De forma a garantir a segurança sanitária do processo eleitoral cada eleitor deve aguardar pela sua vez no exterior. Na impossibilidade de estar mais do que um eleitor dentro da sala de voto por vezes gerou-se um pequeno compasso de espera.
Ao meio-dia registava-se cerca de 25% de afluência às urnas. Cristina Gonçalves, vice-presidente de uma das mesas de voto, revela o cuidado dos eleitores em procurar votar nas horas de menor movimento “existiram períodos de maior afluência, o que já é costume, como depois do almoço, mas nestas legislativas nota-se a preocupação de tentarem vir em horários de menor afluência”.
Ainda assim, existe um cuidado redobrado com as regras com a segurança “as pessoas vêm sempre com máscara, desinfetam as mãos à entrada e à saída, a maioria traz caneta própria, é visível essa preocupação”, confessa Cristina.
Às 19h00, hora indicada para encerrar as votações, fecharam-se as portas e deu-se início à contagem dos votos. Finalizada a contagem, depois de várias repetições para garantir que não existem erros, preenchem-se os documentos e são afixados os resultados. Cabe à junta de freguesia transmitir os resultados à Câmara Municipal.
Dos 230 deputados que constituem a Assembleia da República, 6 são eleitos pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo.
Apuradas as 208 freguesias do Alto Minho, o PS venceu as eleições legislativas com 42,06% dos votos, embora sem mais mandatos do que a segunda lista mais votada. Pelo partido foram eleitos Tiago Brandão Rodrigues, até agora ministro da Educação, Marina Gonçalves, secretária de Estado da Habitação, e José Maria Costa, ex-presidente da Câmara de Viana do Castelo.
Pelo lado do PSD, a cara nova é João Montenegro, secretário-geral adjunto do partido, o terceiro eleito numa lista que voltou a ser liderada por Jorge Mendes, professor de economia e ex-presidente da Câmara de Valença. A estes junta-se a advogada Emília Cerqueira.
Tudo a postos para o dia do voto. Mas para isto acontecer foram necessárias várias horas de trabalho e de preparação. Afinal como é que tudo acontece?
Marta Rodrigues
Na escola básica e jardim de infância da Portela, o relógio marca as 09:00h da manhã de sábado, dia 29 de janeiro, quando os funcionários da Junta de Freguesia de Moscavide e Portela se juntam para começar a preparar as zonas de voto.
Nesta Freguesia, em Loures, existem quatro locais de voto. Na escola básica e jardim de infância da portela, na escola básica Dr. Catela Nunes e no Centro de dia social e comunitário de Moscavide, bem como na nova urbanização dos jardins do Cristo Rei.
São 20930 habitantes, de acordo com os censos de 2021, que se vão dirigir a estes locais para exercer o seu direito de voto.
Locais de VotoEntrada Zona de VotoFuncionários Junta Freguesia Moscavide e PortelaLaurindo Semedo e funcionáriosFuncionários Junta Freguesia Moscavide e PortelaRecepção caixas de voto
Laurindo Tavares Semedo, de 42 anos, é Técnico na Junta de Freguesia de Moscavide e Portela, e é um dos responsáveis do Apoio ao Recenseamento e explica que “O dia da votação em si, nomeadamente a preparação da parte logística, inicia sensivelmente 3 semanas antes das eleições. E a organização para o dia do voto é efetuada através duma estreita articulação entre as Comissões Recenseadoras, das quais as Autarquias são parte integrante, as próprias Autarquias, os Municípios e a Administração Eleitoral.”
Além de toda a organização dos espaços, é necessário também organizar as listagens e as mesas de voto.
Nestas vão estar pessoas designadas pelos delegados dos partidos ou que se candidataram. Laurindo Semedo explica que, “Decorrente da lei eleitoral, os membros das mesas são designados mediante acordo por delegados dos partidos e candidaturas concorrentes à Eleição, e são escolhidos reunião convocada pelo Presidente da Junta de Freguesia.”
Estes cidadãos recebem por este trabalho, que é pago pelo Estado através das autarquias, e é possível que qualquer pessoa se candidate. “Numa primeira fase os membros são designados pelos partidos/ candidaturas, contudo existe uma bolsa de agentes eleitorais, onde qualquer cidadão pode se inscrever, podendo ser chamado por motivos de desistência ou indisponibilidade de qualquer membro nomeado, até às eleições.”
Para votar na Freguesia de Moscavide e Portela, é necessário que os cidadãos nacionais e portadores de títulos de residência, maiores de idade, tenham a sua morada relativa à área desta freguesia no seu documento de identificação e estejam recenseados nesta junta de freguesia. Salvo “na eleição dos Deputados à Assembleia da República, vulgo Legislativas, que apenas está prevista a votação dos eleitores nacionais e dos cidadãos brasileiros titulares do Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos.”
No caso de não ter a sua morada atualizada, basta proceder à atualização da morada no seu cartão de cidadão, visto o recenseamento ser automático. No caso de ser um cidadão estrangeiro aí deve proceder à alteração de morada no seu título de residência e fazer o seu recenseamento junto dos serviços da Junta de Freguesia da sua nova residência. Mas, em ambos os casos, tenha atenção que qualquer alteração ao recenseamento está suspensa por um período de 60 dias antes de qualquer eleição, pelo que as mudanças apenas ocorrem fora deste período.
Depois de confirmar se a sua morada está atualizada e o recenseamento na junta de freguesia estiver feito, fará parte da lista de eleitores da Freguesia. É através destas listagens que os responsáveis pelo recenseamento como Laurindo Semedo, dividem as secções de voto. “A lista de eleitores consiste nos cadernos eleitorais de cada Freguesia, que são disponibilizados numa plataforma eletrónica, gerida pelo SIGRE (Sistema de Informação de Gestão do Recenseamento Eleitoral) que é um sistema da responsabilidade do Ministério da Administração Interna, responsável pela disponibilização e manutenção dos cadernos eleitorais. É assim que ficamos a saber quem são os eleitores”.
O voto antecipado.
No caso de não poder votar no dia das eleições, pode sempre pedir o voto antecipado.
Seja por mobilidade, ou seja, este voto permite aos eleitores recenseados, em território nacional, votar em qualquer ponto do País, independentemente de não ser a morada que consta no documento de identificação. Ou se por alguma razão não puderem ou simplesmente preferirem exercer o seu direito de voto mais cedo. Este voto contará na mesma para o círculo eleitoral em que está recenseado. Se, por exemplo, estiver registado no círculo eleitoral de Lisboa e votar antecipadamente no Porto, estará na mesma a eleger os deputados candidatos por Lisboa. Ou no caso dos Doentes internados em estabelecimentos hospitalares; presos não privados de direitos políticos; Eleitores em confinamento obrigatório e Eleitores internados em lares e instituições similares, que não se podem deslocar ao local de voto no dia designado. Nestes casos Laurindo Semedo explica que “Por norma estes votos são recolhidos pelos serviços camarários junto dos inscritos em colaboração com os serviços da administração eleitoral e/ou dos estabelecimentos aonde se encontram esses eleitores.”
No caso de estar no estrangeiro também pode votar antecipadamente juntos das representações diplomáticas, consulares ou nas delegações externas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, desde que se encontre nas seguintes condições:
No caso de estar no estrangeiro também pode votar antecipadamente juntos das representações diplomáticas, consulares ou nas delegações externas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, desde que se encontre nas seguintes condições: Se for estudante, investigador, docente e bolseiro de investigação em instituição de ensino superior, unidade de investigação ou equiparada reconhecida pelo ministério competente; Se estiver doente em tratamento; Se estiver no estrangeiro por inerência do exercício de funções públicas ou privadas; Se estiver em representação oficial de seleção nacional, organizada por federação desportiva dotada de estatuto de utilidade pública desportiva ou, por último, se vive ou acompanha os eleitores mencionados nos quatro pontos supramencionados.
Por norma o voto antecipado acontece uma semana antes do dia das eleições e carece de uma inscrição, só no caso de estar no estrangeiro é que não necessita de se inscrever, basta dirigir-se aos locais já acima mencionados com o seu cartão de identificação.
Para estas eleições a data de inscrição foi de 16 a 20 de janeiro, e foram mais de 310 mil as pessoas que se inscreveram para votar antecipadamente.
Voto em tempo de Covid-19.
Apesar de estarmos em pandemia, o voto está garantido a todos os eleitores, independentemente de se encontrarem em confinamento obrigatório, seja por um resultado positivo seja por ser um contacto de risco.
Desta forma, os eleitores confinados devem dirigir-se às urnas na última hora funcionamento das assembleias de voto, isto é, entre as 18h e as 19h do dia 30 de janeiro. Não é uma regra, mas uma recomendação de horário, dada pelo Governo no seu Comunicado do Conselho de Ministros.
Devido a esta questão, a junta de freguesia de moscavide e portela está a preparar tudo para que o voto decorra em segurança. “Além das medidas que já vêm sendo implementadas como o distanciamento através de marcações de filas, Gel desinfetante e máscaras/Viseiras, serão ainda adicionados material extra de proteção para os membros de mesa, nomeadamente óculos, batas e luvas, além de luvas e viseiras para todos os funcionários que darão suporte ao ato eleitoral, além dum esforço redobrado de limpeza e monitorização dos espaços afetos aos locais de voto.”
No dia, todos os cidadãos, serão obrigados à utilização de máscara de proteção FFP2 ou cirúrgica, visto que as sociais não estão permitidas, e pede-se que levem a sua caneta. Na Freguesia de Moscavide e Portela será ainda fornecido aos eleitores que não a tenham, uma máscara.
Chegou o dia, como tudo acontece?
O dia de voto, na Junta de Freguesia de Moscavide e Portela começa às 06:30h. A esta hora a junta abre as instalações dos locais de voto. Pelas sete da manhã os membros das mesas reúnem-se nas secções de voto. De seguida a Junta de Freguesia procede à distribuição dos votos antecipados aos Presidentes das Mesas e procede-se à primeira verificação da presença dos membros de mesa, iniciando-se as operações de registo e descarga dos votos antecipados por cada uma das mesas.
Às oito da manhã a votação inicia com a abertura das secções de voto, mas sem não antes de proceder à segunda verificação da presença dos membros de mesa. É também a esta hora que se procede à substituição dos membros de mesa faltosos, caso existam.
Das oito da manhã até as 19:00 horas decorre a votação. Depois, chegam aos locais de voto os serviços do Município com a polícia de segurança publica, para a recolha dos votos e do restante material das mesas. É aqui que começa a contagem dos votos e a verificação do material.” Os votos são contados minuciosamente após o fecho das votações pelos membros de mesa, para fins de apuramento provisório, além de recontados no tribunal para fins dos resultados definitivos”, ou seja, após a contagem a Junta comunica ao Município os resultados provisórios e procede-se ao fecho das secções de voto e à colocação dos editais destes apuramentos provisórios.
Esta primeira contagem é vigiada e contada pelos próprios membros da mesa, por isso é fundamental que a escolha destes membros cumpra um critério. “A pluralidade obrigatória na escolha destes membros exige que em cada mesa estejam membros indicados por diferentes partidos/candidaturas, exatamente para existir um escrutínio sobre o trabalho dos seus pares, acresce ainda que normalmente estão acompanhados por delegados designados pelos partidos/candidaturas concorrentes que acompanham todo o processo de votação nas mesas.”
E no caso de existir algum problema com a contagem, Laurindo Semedo afirma que “Recontam até estar tudo certo, as irregularidades que possam advir são registadas em ata pela mesa e remetidas para escrutínio do tribunal competente.”
É então após todo este processo que são entregues, pelos presidentes de mesa, os votos, em envelopes próprios e lacrados, para que sejam levados pela polícia até à assembleia de apuramento, o Tribunal, onde será feira a recontagem.
O voto é um direito e um dever de todos.
Caso ainda tenha alguma dúvida, não se preocupe. Nos dias das eleições, e pela lei, as juntas de freguesia têm de estar abertas de maneira a informar os eleitores sobre o seu local de voto, além de que nos recintos desses locais existem sempre funcionários de maneira a ajudar os eleitores. E caso tenho alguma deficiência motora ou visual ou necessite de algum apoio especial nesse dia as juntas de Freguesia disponibilizam vários tipos de apoio. No caso da Freguesia de Moscavide e Portela “disponibilizamos nestes locais, tecnologias de apoio à mobilidade, nomeadamente, cadeira de rodas e naturalmente temos funcionários que podem ajudar os cidadãos com dificuldades de mobilidade. Vamos estar prontos para ajudar qualquer um dos nossos eleitores.”
Após toda esta preparação é altura de terminar e voltar a arrumar tudo. Na freguesia de Moscavide e Portela o trabalho é normalmente efetuado no dia seguinte, “pelos serviços da Junta de Freguesia enquanto membros da Comissão Recenseadora.”
Caso ainda tenha alguma dúvida pode sempre contactar a linha de apoio ao eleitor, 808 206 206, ou enviar email para adm.eleitoral@sg.mai.gov.pt, bem como visitar o site do Portal do Eleitor.
Caso tenha dúvidas sobre o local a que se deve dirigir para votar, basta enviar uma mensagem de texto, gratuita, através do seu telemóvel para o número 3838. Na mensagem deve escrever: RE (espaço) número do Cartão de cidadão (espaço) data de nascimento no formato AAAMMDD, a sua mensagem deve assemelhar-se a esta: RE 12345678 19900204, e enviar.
A resposta será imediata e irá mostrar-lhe qual o local onde se deve dirigir para votar, bem como qual a secção.
Actualização
Na Freguesia de Moscavide e Portela as urnas fecharam às 20:00 horas, e o vencedor da noite foi o Partido Socialista.
Na freguesia a taxa de votação foi de 65,71% dos eleitores.
António Costa pediu maioria absoluta e o eleitorado assentiu. Agora a tomada de posse e a apresentação do novo executivo estão para breve se cumpridos os prazos estabelecidos na Lei Eleitoral.
Para quando a constituição da nova Assembleia da República?
Dependendo da celeridade dos procedimentos a Assembleia da República pode constituir-se nas próximas três semanas. Tendo as eleições decorrido no passado dia 30 de janeiro prevê-se que até dia 9 de fevereiro haja um apuramento geral dos votos, ainda assim há que reforçar que, de acordo com a lei eleitoral, os procedimentos possam ficar concluídos antes dessa data, uma vez que o limite estabelecido é de dez dias.
Ainda neste âmbito, aquando do apuramento dos votos a ata é remetida para a Comissão Nacional de Eleições (CNE) no prazo máximo de dois dias após a contabilização total dos votos tal como previsto no artigo 113º/2 e com o documento na sua posse a CNE dispõe de oito dias para publicação do Mapa Oficial das Eleições no Diário da República (art.º 115).
Após essa publicação, aguarda-se três dias e a nova Assembleia pode reunir-se pela primeira vez. De salientar, que o mesmo dia fica também marcado pelo momento da eleição do Presidente da Mesa da AR.
Cumpridos os prazos estipulados prevê-se que o calendário seja o seguinte:
Tomada de posse de António Costa e o novo Governo
Face à maioria absoluta alcançada pelos socialistas prevê-se que António Costa seja nomeado nos próximos dias, mas até lá deverá exercer de forma limitada as suas funções.
Numa primeira fase, caberá ao Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, reunir com todos os partidos com assento parlamentar e após essa reunião nomear o Primeiro-Ministro.
Posteriormente está nas mãos do Chefe do Executivo formar o governo e cabe a Marcelo Rebelo de Sousa dar posse a António Costa. Relativamente ao programa este tem de ser apresentado na AR dez dias depois do novo governo ser empossado o que pode acontecer, no máximo, a 22 de fevereiro.
De reforçar, que o Executivo apenas pode entrar em plenas funções após a aprovação do programa pelo Parlamento.
O Orçamento que interrompeu a legislatura
O Orçamento de Estado foi o centro das atenções dos portugueses no final do ano de 2021. A tentativa da sua aprovação levou a um desfecho inesperado de uma dissolução da Assembleia da República e da marcação de eleições antecipadas.
António Costa referiu por várias vezes nos seus discursos de campanha e debates, o Orçamento que não havia sido aprovado, mostrou-o e afirmou que o levaria igual à Assembleia da República assim que fosse estabelecida.
Com as eleições encerradas e uma Assembleia que irá reunir-se a 22 de fevereiro, o Orçamento redigido será discutido primeiramente com o novo governo formado, seguindo-se uma discussão no Parlamento, o que pode ocorrer tanto no final de fevereiro como no início de março, conforme os prazos da Lei Eleitoral.
Após redigir o orçamento que sofrerá poucas alterações, como tem vindo a referir António Costa, a discussão dará lugar à aprovação, agora facilitada e acelerado com a maioria absoluta, seguindo-se a aprovação do Presidente da República. A entrada em vigor do Orçamento é ainda indefinida, pelos processos que enfrenta, pelo que poderá estar em vigor em abril, num cenário mais otimista, ou em maio num cenário mais morosos de discussão e apreciação.
O que acontece aos derrotados das eleições?
As mudanças nestas legislativas causaram polémica e dissabores, e grandes partidos sofreram fortes quedas e perdas. Envergam no caminho da reunião, discussão, alteração e procura de soluções.
O PSD, já envolvido em batalhas internas antes destas eleições começa a agitar-se e o deputado Pedro Rodrigues pediu, esta segunda-feira “a convocação urgente” de um Congresso para discutir a reconstrução do partido, procurando encontrar as causas que levaram a este desfecho e procurar soluções.
O CDS que ficou marcado com esta eleição não garantido assento parlamentar, perdeu o líder Francisco Rodrigues dos Santos e o futuro do partido é incerto.
Os partidos que na legislatura que se iniciou em 2015 fizeram parte da famosa geringonça ficaram enfraquecidos com a perda de representação parlamentar. O Bloco de Esquerda, que teve uma das maiores quedas, perdendo 11 deputados, convocou uma reunião da comissão política que irá reunir esta segunda-feira para analisar a derrota. Contudo, ao contrário do que acontece nos partidos acima referidos e segundo Catarina Martins, a liderança não está posta em causa. De acordo com a bloquista, a mudança na coordenação não é uma prioridade e que os resultados eleitorais nunca foram fator decisivo para escolhas de liderança, e que a direção atual comporta todas as responsabilidades do sucedido neste ato eleitoral.
“Em algumas mesas, o direito de voto acompanhado pelas pessoas com deficiência visual tem estado a ser posto em causa”, contestou a ACAPO.
A ACAPO refere que a matriz de voto que lhe foi facultada em dezembro pela Administração Eleitoral “corresponde apenas a um dos vários círculos eleitorais”, o que tornou impossível “confirmar a disposição de todas as candidaturas em todas as matrizes e nas respetivas folhas explicativas”.
Já anteriormente a Associação tinha denunciado problemas à Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI) sobre as condições de voto antecipado para as pessoas invisuais.
De acordo com um comunicado divulgado pela ACAPO no passado dia 17, as pessoas com deficiência visual “estão impedidas de solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro cidadão, o seu voto antecipado”, voltando assim a apresentar queixa por discriminação contra a SGMAI.
Neste comunicado, a associação recorda os problemas em atos eleitorais anteriores, como nas eleições autárquicas de setembro de 2021, denunciando barreiras que impossibilitavam os cidadãos cegos e com baixa visão de requerer online o voto antecipado ou de consultar o seu local de recenseamento, devido ao facto de ser solicitado um código de segurança presente numa imagem que não conseguiam ler sem ajuda.
“As pessoas com deficiência visual estão, pois, impedidas de solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro cidadão, o seu voto antecipado porque, apesar de saber deste problema há mais de um ano, o Estado português nada fez nesta matéria, que permanece assim desde 2019″, denuncia a ACAPO, acusando o Estado português de violação dos direitos humanos ao não respeitar as convenções internacionais nas quais se prevê voto e acesso a meios digitais em igualdade para todos os cidadãos.
Valdemar Alves, ex-presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, foi condenado, esta segunda-feira, a uma pena única de sete anos de prisão pelo Tribunal Judicial de Leiria. O processo em questão refere-se à reconstrução das casas após os incêndios de 2017.
O antigo autarca foi condenado por 20 crimes de prevaricação de titular de cargo politico, 20 crimes de burla qualificada, cinco dos quais na forma tentada e outros 20 de falsificação de documentos.
Bruno Gomes também foi condenado pelos mesmos crimes mas a pena única aplicada ao ex-vereador foi de seis anos.
O Ministério Publico acusou 28 arguidos, dos quais 14 foram absolvidos e 14 condenados. Apenas dois foram condenados a penas efetivas, os restantes estão com pena suspensa.
No final do julgamento, Valdemar Alves mostra-se indignado com a decisão:
“Isto foi uma surpresa. Não tenho palavras para isto. É [pena] demasiado pesada”
Valdemar Alves, ex-presidente CM Pedrógão Grande
O antigo autarca avançou, ainda, que “vai conferenciar com o advogado” mas que a decisão judicial vai ser alvo de recurso.
À semelhança do ex-presidente, o advogado de Bruno Gomes considerou a pena de 6 anos aplicada ao ex-vereador pesada e por isso afirmou também recorrer da decisão.
“Não estávamos à espera de uma decisão com esta gravidade, com este peso”
A poucas horas de se saber os resultados das eleições legislativas de 2022, mostramos os resultados das sondagens feitas aos eleitores entre os dias 13 e 28 de janeiro.
Com estas sondagens é possível ver a preferência dos eleitores pelo PS e a tendência crescente de votos.
No entanto, todos os cenários se encontram em aberto até à contagem dos votos.
É importante notar que o PS e o PSD encontram-se em empate técnico devido aos intervalos de confiança mínimos e máximos que se sobrepõem.
Vemos ainda a diminuição de indecisão com o passar dos dias e com a aproximação do dia de votação.
Já o Chega tem sido o terceiro partido mais influente em Portugal, não tendo ocupado este lugar por apenas um dia, e tendo estado empatado em apenas dois dias. Foi destronado na quarta-feira, quando o Bloco de Esquerda ultrapassou momentaneamente o partido de André Ventura, tendo recuperado imediatamente para 5,4% dos votos.
Logo atrás deste partido estão o CDU e a Iniciativa Liberal, com 5,2% dos votos, e o Bloco de Esquerda com 5,1%.
O Livre chega ao fim com 1,7%, o CDS com 1,4% e PAN com 1,2%.
Numa decisão excepcional, os eleitores em situação de confinamento poderão votar presencialmente nas eleições legislativas de janeiro. Esta resolução é o culminar de um longo processo deliberativo com várias propostas em cima da mesa, e abre a porta à consideração de modalidades de voto alternativas em futuras eleições.
A aprovação do voto em isolamento surge como consequência de duas crises: a política, com a dissolução da Assembleia da República e a antecipação das eleições legislativas, e a sanitária, com casos de infecção por Covid-19 a quebrar recordes diariamente.
A proposta que visava permitir o voto em confinamento, através da prorrogação do regime excepcional de exercício de direito de voto, foi aprovada a 15 de Dezembro e provocou um debate aceso sobre os possíveis conflitos entre o direito à saúde e o direito ao exercício de voto.
Apesar de resolver o problema dos eleitores isolados e dos idosos institucionalizados, a medida não prevê soluções para a questão dos infectados nos sete dias anteriores.
A Lei Eleitoral não permite alterações depois de convocadas eleições, e a Comissão Permanente que entrou em funções desde a dissolução do Parlamento não tem poderes para mudar as leis eleitorais. Ainda assim, as propostas por parte de partidos políticos e autoridades sanitárias multiplicam-se.
Recolhemos, neste guia, algumas propostas dos deputados e partidos com representação parlamentar.
Em vários países do mundo onde decorreram eleições durante o primeiro ano de pandemia, foram sugeridas e praticadas soluções para um exercício de voto igualmente acessível a todos os eleitores.
VOTO ANTECIPADO
Em Portugal, tal como em várias partes do mundo, esta modalidade de voto foi disponibilizada aos eleitores confinados. No entanto, só é possível votar antecipadamente se o isolamento tiver sido decretado até dia 22 de janeiro – sete dias anteriores à data das eleições.
VOTO POR CORRESPONDÊNCIA
Esta modalidade consiste na recepção de um boletim de voto no local de residência do eleitor. Entre 2020 e 2021, 16 países recorreram a este método, com níveis de sucesso variáveis.
VOTO POR PROCURAÇÃO
Significa a delegação de autoridade de voto a um representante do eleitor, embora as regras e requerimentos variem de país para país.
VOTO NO DOMICÍLIO
Este método de recolha de votos, que implica o transporte de urnas móveis ao local de residência do eleitor, já aconteceu em Portugal em eleições anteriores. Pelo mundo fora, revela-se uma modalidade de voto igualmente popular, com sucesso em mais de 20 países.
DRIVE THRU
Os postos drive thru, como os instalados em Portugal para a realização de testes à Covid-19, foram repensados noutros países como assembleias de voto para pessoas infectadas ou em isolamento. Os eleitores acedem a estes postos de carro ou, no caso dos Países Baixos, até de bicicleta.
SECÇÕES DE VOTO ESPECIAIS
Alguns países permitiram que cidadãos infectados ou em isolamento cumprissem o seu exercício de voto através do estabelecimento de um horário específico para estes eleitores. Já em 2021, também a Catalunha e Madrid adoptaram este método.
A última opção, relativa às secções de voto especiais, acabou por ser a escolhida para as eleições legislativas portuguesas.
Dia 20 de janeiro de 2022, o Conselho de Ministros aprovou a resolução que concede a título excepcional o direito de exercício de voto presencial a todos os eleitores, incluindo os infectados e os sujeitos a confinamento obrigatório.
Em que dia?
No dia designado para as eleições legislativas: 30 de janeiro.
A que horas?
A DGS recomenda que o acesso às urnas seja feito, preferencialmente, na última hora de votação: entre as 18:00h e as 19:00h.
São necessários cuidados especiais?
Apesar de o Governo e a DGS garantirem todas as condições sanitárias e de saúde e segurança públicas na realização do acto eleitoral, as pessoas infectadas e/ou confinadas deverão cumprir todas as medidas de controlo da pandemia e evitar o contacto com os demais cidadãos. Assim:
– Deverão ser usadas, permanentemente, máscaras cirúrgias ou FP2;
– A deslocação às urnas deverá ser feita através de transporte individual ou a pé. Os transportes colectivos ou individuais de passageiros devem ser evitados;
– No local da votação, deve ser mantida a distância dos demais e reforçada a higiene e desinfecção das mãos.
Face a esta decisão, a opinião dos eleitores divide-se. A uma amostra de 50 eleitores da Freguesia de Rio de Mouro, no Concelho de Sintra, foi proposta a seguinte questão:
Dia 20 de janeiro, foi divulgada a decisão governamental de permitir o voto presencial aos eleitores em situação de isolamento, através da recomendação de um horário específico para esta fatia da população. Concorda com a solução apresentada?
A percentagem que afirmou concordar (43%) argumentou a sua posição com estes factores:
Confiança nas medidas sanitárias adoptadas pelas juntas de freguesia
Ping Chen, Estudante, 25 anos
Constitucionalidade do direito ao voto
Miguel Gutierrez, Designer gráfico, 26 anos
Importância do voto presencial
“Estar lá, no local de voto… é muito melhor. Não há tantas hipóteses de acontecerem erros ou fraudes”. Andreia Almeida, Cozinheira, 43 anos
Confiança na eficácia da vacina
“Apesar de todas as infecções que esta vaga [Omicron] trouxe, estamos vacinados e a doença já não traz sintomas tão graves. Não há razão para ter tanto medo como antes”. Inês Pereira, Veterinária, 36 anos
Impossibilidade logística de outras opções
“O que é que poderiam fazer? Não quero estar misturado com os infectados, e também percebo que não haja recursos para outras opções como o voto porta-a-porta”. Ângelo Seiça, Gestor financeiro, 52 anos
Os inquiridos que manifestaram dúvidas relativamente à decisão governamental mas optaram por não responder favorável ou desfavoravelmente (28%) e os inquiridos que afirmaram não concordar de todo (20%) expressaram preocupações semelhantes entre si.
Incumprimento do horário por parte dos eleitores infectados
“Quem é que me garante que os infectados vão na hora estipulada e não noutra altura? Quem é que garante o transporte até às mesas de voto? Como é que podemos saber se estamos realmente em segurança?” Alcina Pereira, Reformada, 73 anos
Estigmatização dos eleitores que exerçam o seu direito de voto no horário entre as 18h00 e as 19h00
Maria da Silva, Auxiliar escolar, 55 anos
Receio pela segurança dos membros das mesas de voto
“Mesmo com máscaras e álcool-gel, quem é que garante a segurança dos membros das mesas de voto, que vão estar em contacto próximo com milhares de infectados?” Pedro Lourenço, Estudante, 26 anos
Receio que a abertura desta excepção conduza à quebra de regras da DGS
“Se o Governo diz que afinal podemos ir à rua para votar, é claro que há pessoas que vão aproveitar esta excepção para começarem a fazer o que querem. Primeiro saem para votar, depois começam a sair para fazer compras…” Ana Abrantes, Professora, 41 anos
A grande maioria dos inquiridos, independentemente da resposta cedida, parece concordar num ponto essencial: a necessidade de ponderar formas alternativas de votação. Desde o voto ao domicílio ao voto electrónico, o voto presencial é cada vez mais considerado um método “arcaico” que, em particular no contexto pandémico, nem sempre se revela o mais eficaz.
Vera Silva, Esteticista, 42 anosAdriano Paredes, Desempregado, 58 anos
A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) faz eco desta ideia. Luísa Salgueiro, a Presidente, garante que a Associação vai apresentar propostas de voto ao Parlamento, após um estudo cuidadoso da situação.
Em declarações à Rádio Renascença, sublinha que os métodos de voto devem adequar-se ao desenvolvimento tecnológico e às especificidades do contexto pandémico. Entre as alternativas possíveis, cita o voto electrónico e o drive thru como soluções plausíveis que, de resto, já obtiveram sucesso em diversas partes do mundo.
A Presidente da ANMP, Luísa Salgueiro, em entrevista à Rádio Renascença.
Artigo escrito por: Bernardo Machado Silva, Rafael Carvalho Ferreira e Ricardo Miguel Nunes
Quando estamos no fim da campanha eleitoral, é altura de fazermos um balanço final da comunicação dos partidos nas redes sociais.
Com cada vez mais pessoas a recolherem a sua informação política nas redes sociais, é natural que os partidos comecem a adotar estratégias mais dirigidas para a sua comunicação de campanha no ambinete digital. E isso torna-se particulamente relevante em tempos de pandemia, com um maior número de pessoas mais resguardadas em casa e com menos vontade de participar nas tradicionais arruadas ou comícios.
Por isso, fomos ver como decorreu, nas redes sociais, esta campanha para a legislativas de 30 de Janeiro. Globalmente, Gustavo Cardoso, investigador do MediaLab do ISCTE-IUL, considera que não existiu por parte dos partidos uma articulação da mesma mensagem em diferentes ecrãs. “Aparentemente, Aquilo que faltou, a todos os partidos, foi uma estratégia, um sentido comum para as diferentes formas de comunicação”.
Na opinião do investigador, a campanha dos partidos foi feita essencialmente para gerar conteúdos para a televisão, não existindo da parte da estrutura partidária um acompanhamento simultâneo desses conteúdos nas redes sociais.
Ainda assim, existiram dois partidos – o Chega e a Iniciativa Liberal – que se evidenciaram pela comunicação nas redes sociais. Mas, ainda assim, segundo Gustavo Cardoso, não porque tenham concentrado esforços na campanha, mas antes prosseguindo uma estratégia de comunicação que já vinha de trás.
“Chega e Iniciativa Liberal evidenciaram-se, mas não porque estejam a fazer uma grande campanha, mas porque nos últimos três anos concentraram muito do seu esforço de campanha, fora do período eleitoral, para as redes sociais”
Gustavo Cardoso
Olhando para os números desta campanha nas redes sociais, com destaque para o Facebook, que é a maior rede social no nosso país, vemos que pódio dos partidos com mais interações – reações, comentário e partilhas – é ocupado pelo Chega, PSD e PS respetivamente. O Chega registou, nos últimos 30 dias antes da eleição, mais de 202 mil interações, o PSD foi segundo, com quase 159 mil, e o PS terceiro, com mais de 111 mil interações.
Fonte: MediaLab – ISCTE-IUL
Quanto às publicações que, individualmente, conseguiram gerar mais reações, comentários e partilhas por parte dos utilizadores portugueses do Facebook, encontramos uma publicação dop PSD, outra do Chega e uma terceira da Iniciativa Liberal.
A primeira dessas publicações, da autoria da conta oficial do PSD, reproduz um vídeo com parte do debate entre António Costa e Rui Rio, em que é feita uma referência ao tema da TAP. A popularidade desse post nas redes teve a ver com o preço da tarifa Madrid-Lisboa-São Francisco. Rui Rio afirmou que, de Madrid a São Francisco, um espanhol paga apenas 190 euros, ao passo que um português que vá apanhar o mesmo voo paga 697 euros. Este foi o tema em que Rui Rio acabou por se exaltar mais em todo o debate mas foi também aquele que teve posteriormente mais eco nas redes sociais, o que explica a popularidade desta publicação do PSD. Ao todo, este trecho do debate alcançou cerca de 318 mil visualizações, oito mil reações, 1.100 comentário e 6.500 partilhas.
O segundo lugar deste pódio das publicações com mais interações no Facebook nos 30 dias anteriores à eleição retrata um post publicado pela conta do partido Chega no dia 23 de janeiro, no qual o líder, André Ventura, aparece em plena campanha eleitoral, no distrito do Porto, vestido com um casaco militar camuflado e reunido com antigos combatentes. Talvez pelo simbolismo desse encontro, esta publicação do Chega reuniu 32 mil visulizações, três mil reações, 1.200 comentários e 1.200 partilhas.
O lugar do bronze neste pódio das publicações mais populares no Facebook é ocupado por uma imagem publicada a 21 de janeiro pelo partido Iniciativa Liberal, onde são comparadas as declarações de Cotrim Figueiredo e António Costa, utilizando a ferramenta do fact-checking. Desta forma, procura apelar às pessoas para votarem no candidato que não mente. Este post teve 3.500 reações, 178 comentários e 960 partilhas desde que foi publicado.
Se voltarmos a olhar para o ranking dos vários partidos nas redes sociais, mas focando agora a atenção na relação entre o número de posts publicados e interações geradas – uma medida da eficácia da comunicação – a Iniciativa Liberal lidera a tabela, com uma taxa de interação de 0,96 por cento, seguida do Chega, com 0,79 por cento, e do Partido Socialista, com uma taxa de 0,75 por cento.
Fonte: Media Lab – ISCTE-IUL
Análise da comunicação dos partidos
Mas, depois de analisarmos os dados quantitativos dos partidos nas redes sociais durante a campanha e pré-campanha, a pergunta que se coloca é a seguinte: Que tipo de posts publicaram? Que estratégias estiveram por detrás desses posts? Quais os temas mais repetidos na campanha nas redes sociais?
A este, respeito, o investigador do MediaLab não tem uma visão muito favorável. Para Gustavo Cardoso, faltou uma narrativa estruturada nas publicações que os partidos colocam nas redes sociais e este acabou por ser sobretudo um espaço de experimentação.
O lema do PS em todas as publicações nas redes sociais foi evidente: “fazer Portugal continuar a avançar”. As publicações do partido refletiram maioritariamente as ações de campanha, com diretos dos vários comícios pelo país, onde a narrativa, repetidamente, passou por argumentar que os portugueses querem continuar a avançar e por isso estão com o partido. O principal foco de critica foi a direita, especialmente Rui Rio e o PSD.
Ana Catarina Mendes defendeu que os portugueses devem rejeitar um modelo de país, proposto pela direita "em que o salário mínimo e o salário médio não aumentam", acusando o líder do PSD de se apresentar ao país como "lobo vestido com pele de cordeiro".https://t.co/lDigefC2ZY
A mensagem mais frequentemente veiculada pelo PSD nas redes sociais procurou fazer do partido o rosto da mudança e do futuro em Portugal. Neste sentido, foi repetido que votar no PSD significa votar na mudança enquanto votar no PS significa votar noutra geringonça. No dia 25 de janeiro, em particular, há uma publicação do PSD com uma declaração forte de Rui Rio, na qual este ataca frontalmente António Costa e o PS. Em vários posts, a comunicação do PSD considerou ainda vergonhosa a forma como a campanha socialista procurou distorcer as sucessivas declarações de Rui Rio, considerando-a uma “campanha negra”
António Costa anda notoriamente aos ziguezagues e o Partido Socialista está perdido. Faltam 5 dias para Portugal ter Novos Horizontes. Força, PSD!✌ pic.twitter.com/L1FhLw4DkA
A mensagem principal do Bloco de Esquerda nas redes sociais sublinhou o papel do partido como terceira força política nacional e visou diretamente o Chega em múltiplas ocasiões. Noutras instâncias, essas críticas estenderam-se também aos restantes partidos de direita.
Outro dos argumentos-chave das publicações do BE foi dizer que as eleições não decidem apenas quem vai ser o Primeiro-Ministro, mas também determinam se o país vai ter uma maioria à direita ou à esquerda.
Estive no bairro da Jamaica com a família Coxi, porque é a primeira vez que temos um partido parlamentar cujo candidato foi condenado em tribunal por insultos de motivação racista. O reforço do Bloco como terceira força é a derrota de André Ventura. #Legislativas2022pic.twitter.com/P9ko6Vu1lc
O CDS-PP apresentou-se como o único voto útil à direita que se opõe a uma agenda de esquerda. O partido anunciou pretender virar a página do socialismo em Portugal, mas sem cair em populismos (numa crítica implícita – e por vezes explícita – ao partido Chega). Uma das máximas transmitidas nas redes sociais foi “Pelo mundo Rural, pelas empresas, pelos empresários”. Os alvos principais das criticas foram o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal.
🔵 O CDS é o único voto útil à direita, por não cair em populismos e extremismos, mas também por defender sempre convictamente os seus ideais de forma intransigente.
Um voto no CDS é um voto que garante mais liberdade na economia, sem a alienação dos valores de direita. pic.twitter.com/YbfpJyLLnS
Na sua campanha nas redes sociais, os comunistas portugueses defenderam a valorização do trabalho e dos trabalhadores. A melhoria da escola pública (inclusiva e gratuita), o reforço do serviço nacional de saúde e o aumento dos salários foram outras das bandeiras do partido durante a campanha.
Numa das suas publicações, o PCP apresenta-se como o partido que fechou as portas ao governo de direita em 2015, em contraste com a passividade do PS de António Costa.
Globalmente, PSD e PS foram os principais alvos de críticas dos comunistas, as quais, nalguns casos, se expressaram de uma forma original nas redes sociais.
🎒🏫📚 «Só este ano lectivo já passei por dois sofás de amigos». O Daniel Nunes é um professor deslocado (e são tantos como ele) que sabe bem as consequências das opções de precarização da escola pública levadas a cabo por PS e PSD. + https://t.co/GyEuG256Fr
O Livre, o PAN, o Chega e a Iniciativa Liberal são os partidos mais recentes no atual panorama partidário português. Talvez por isso tenham adotado, em conjunto, uma presença mais irreverente nas redes sociais
O PAN e o Livre destacaram-se por apresentarem, na maior parte das publicações, as suas propostas eleitorais, utilizando normalmente frases curtas e chamativas, em junção com o respetivo programa eleitoral. “Agir já” foi o slogan usado pelo PAN nas redes sociais. No conjunto das suas publicações, o partido identifica-se como feminista, ecologista e animalista.
Já o Livre utilizou abundantemnete o slogan “Bota acima e não abaixo” nas suas comunicações nas redes sociais. Como argumentos de campanha, o partido de Rui Tavares afirmou pretender dignificar os professores, assegurar a ajuda à compra da primeira casa e estimular as economias regionais. Estas foram algumas das principais propostas do partido.
Em Portugal, aproximadamente dois milhões de pessoas vivem em pobreza energética. O PAN apresenta um pacote de medidas em consonância com a Estratégia de Longo Prazo de Renovação de Edifícios. Sabe mais em https://t.co/xbLTVxqyKa É preciso #AgirJá! Dia 30, #VotaPAN 💙💚 pic.twitter.com/XERZu60EHG
O LIVRE propõe recuperar a geração Covid e torná-la numa das mais capacitadas a entrar no ensino superior (…) assim como eliminar as propinas no 1º ciclo do Ensino Superior ou reduzir drasticamente no 2º.https://t.co/Atu9136m5v#Legislativas2022#PartidoLIVRE#BotaAcima
O Chega e a Iniciativa Liberal, por seu lado, optaram por formas de comunicação mais apelativas e criativas para expressarem as suas mensagens políticas nas redes sociais.
A comunicação do Chega no Facebook começou com os objetivos de campanha: pretender ser a terceira força política e alcançar 15% dos votos. O Chega intitulou-se como o partido das pessoas comuns, que trabalham, contra os que roubam, numa narrativa maniqueísta que divide o mundo entre bons e maus, os que querem trabalhar e os outros.
Um dos slogans principais do Chega é “Um partido, um líder, um destino” onde o líder, André Ventura, se apresenta como o salvador dos portugueses face a um sistema político apresentado como corrupto.
Vídeo viral de Maria Vieira. A atriz é mandatária para o círculo eleitoral fora da Europa pelo Chega!.
No que se refere à Iniciativa Liberal, a ideia de pôr Portugal a crescer e a luta por um país mais liberal foram duas marcas fortes da campanha nas redes sociais. Muita da comunicação da IL foi apresentada como um veículo para combater o socialismo e, simultaneamente, deu também algumas “alfinetadas” ao PSD: “Sem a Iniciativa Liberal o PSD fica praticamente igual ao PS”.
Das várias estratégias de comunicação que os partidos utilizaram na campanha nas redes sociais, o tema dos animais de estimação e o uso de dos sites de fact-checking assumiram um papel de destaque em várias ocasiões.
O tema dos animais, por exemplo, foi trazido à campanha nas redes sociais na sequência de um tweet de Rui Rio sobre o gato Zé Albino, ao qual tanto Inês Sousa Real, do PAN, como André Ventura, do Chega, responderam também nas redes sociais.
Sobre esta utilização dos animais de estimação na campanha eleitoral, Gustavo Cardoso considera que “para a dinâmica que é preciso ter de interações e partilhas, a estratégia é eficaz”. Contudo, por se tratar de um “episódio isolado” da campanha – um epifenómeno – ele acaba por perder efetividade junto do eleitorado.
Caro @RuiRioPSD não vale a pena ter ciúmes! Até porque tenho cá para mim que o Zé Albino vota mesmo é no @pan! 🐈 https://t.co/92k4EjGGtA
Nem o gato Zé Albino , nem a cadela liberal Bala, a Acácia está na luta pelo primeiro lugar destas eleições! E não se vai deixar ficar para trás.. 😍 pic.twitter.com/reniaYU3oc
Já quanto ao uso do fact-checking por parte de alguns líderes partidários na sua argumentação, segundo Gustavo Cardoso ele “serve acima de tudo para legitimar as marcas de fact-check portuguesas e combater a desinformação”.
Em relação à eficácia desta estratégia para a comunicação dos próprios partidos, aquele investigador refere que pode ter sido “um tiro nos pés. Todos têm telhados de vidro e as pessoas ficam a perceber que nenhum diz totalmente a verdade”, concluiu.
Em suma, a campanha dos partidos politicos nas redes sociais procurou seguir as linhas de comunicação gerais, mas na maior parte dos casos derivou para “fait-divers” pouco alinhados com essa estratégia. A comunicação mais irrevente e provocatória parece compensar em termos de resultados imediatos nas redes sociais, mas resta saber que efeito é que isso poderá ter nas urnas, que é onde realmente importa. A essa pergunta, só os resultados de dia 30 poderão responder.
Para muitos adolescentes, as legislativas de 2022 são a primeira oportunidade de exercerem o direito ao voto. O chumbo do Orçamento de Estado, e a consequente antecipação das eleições, apanhou os jovens de surpresa, obrigando-os a informarem-se mais rapidamente sobre as medidas dos diferentes partidos. No dia 30 de janeiro, saem à rua com vista a contribuírem para um futuro melhor para o país.
Para Carolina Coelho, “votar é algo muito importante”, uma vez que está em causa a “luta pelos nossos interesses”. Apesar de não acompanhar habitualmente os assuntos de política, o orgulho que sente por se deslocar às urnas pela primeira vez fez com que a jovem de 18 anos procurasse mais informação sobre os diferentes partidos. Para isso, confessa que viu “debates televisivos” e pesquisou “alguns programas eleitorais”.
“Se nós queremos que o país funcione da maneira que nós gostávamos, temos de votar, dar a nossa opinião sobre o assunto”. Quem o diz é Leonor Guedes, estudante do primeiro ano da licenciatura de Gestão na Universidade Portucalense. O setor da Justiça é aquele que a jovem acredita precisar de uma “maior intervenção”, já que existem “vários casos de corrupção em Portugal”, sendo importante “uma maior transparência nos processos burocráticos”.
Já Carolina, que frequenta o mesmo curso, presta maior atenção ao campo económico e às medidas que apoiam os trabalhadores, nomeadamente o aumento do salário mínimo nacional e as condições laborais. O ensino e a saúde pública são outros setores que, por influenciarem o dia a dia das jovens, se tornam fatores a ter em conta no dia 30.
Embora as gerações mais novas sejam aquelas que mais se abstêm, Leonor acredita que esta é uma realidade comum tanto nos jovens como nos adultos. “Não querem saber, têm preguiça, não se informam e acham que o seu voto não faz a diferença”, justifica. Apesar de saber que muitos dos seus colegas “não entendem nada de política”, tenta sempre consciencializa-los para a importância do exercício democrático.
O interesse pelo assunto começou em casa, onde sempre foi incentivada a pesquisar sobre a posição política com a qual mais se identificava. Ansiosas, as duas raparigas de 18 anos afirmam que vão votar com os pais, mas que a decisão final é apenas delas.